domingo, 30 de junho de 2013

FONTE DE ARETUSA

OS ABÊBERAS

Monforte dos abêberas a mansão,
junto à Ribeira Grande situada...
um altaneiro monte é o seu chão
que de heróis e poetas é morada.

Do Alentejo antigo bastião
por anéis de muralhas bem cercada...
Nenhum conquistador lhe pôs a mão,
a todos fez bater em retirada.

Hoje é flor na campina soalheira,
o trabalho é o seu dom e o seu lema
as portas do futuro as suas metas...

Monforte é, sempre, terra hospitaleira...
Suas ruas e praças são poema.
E "Fonte de Aretusa" dos poetas.

Matos Serra in, O Alentejo, as Terras e as Gentes.

sábado, 29 de junho de 2013

JOGOS RADICAIS ALENTEJANOS

A TOURADA - UM JOGO RADICAL
( Palavras de um não aficionado)

Desde p'ra lá dos tempos de Altamira,
bem antes de Lisboa ser Lisboa
e dos traços rupestres de Foz Côa...
que o Homem se diverte e que delira,

que ousa, que se arrisca e que se atira,
se fere, se fragiliza e se magoa
e enfrenta o touro bravo e apregoa
que em frente à fera brava não se vira.

E, por vezes, o medo é assombroso,
mas, medo de ter medo ainda é mais...
É preciso mostrar-se corajoso.

Já bem antes dos jogos radicais
a tourada era um jogo majestoso
para o ego dos nossos ancestrais.

 Matos Serra in, As Suas Belezas e a Sua Cultura

PRIMAVERA

TEMA: AO CANTAR DO CUCO
TÍTULO: PRIMAVERA
MODALID. SONETO

Entre a realidade e a quimera
vestiu-se a natureza de mil cores,
num pacto entre as aves e as flores
parece anunciar-se nova era.

Nos prados é a vida que se gera,
nos bosques são alados seus cantores
porque em março é o tempo dos amores...
ouço o cantar do cuco, é primavera.

Se, em cada ano, o quadro se renova
e se veste de novo a natureza...
os faunos lançam cantos na floresta...

é ele que anuncia a boa nova,
o cuco é pregoeiro desta certeza:
já toda a natureza está em festa.

Matos Serra in, Belezas do Alentejo.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

BORBA

TEOGONIA BORBENSE
Poesia tradicional alentejana com mote de um poeta daquela simpática vila vinhateira. Este poema foi apresentado num concurso poético realizado durante as FESTAS DA VINHA E DO VINHO e foi destacado com um terceiro prémio. Brincando na própria poesia tradicional tratei o tema à laia de uma TEOGONIA.
 MOTE
Borba... Tu és conhecida
por seres tão nobre e velhinha...
Onde há paz, amor e vida
e a grande "Festa da Vinha".
1
Está, por demais, comprovado,
e não só aos olhos meus...
que Borba é poiso de Deus
que aqui habita encantado...
que ao ter o mundo formado
desta terra fez guarida...
e, para a ter por garantida
fez marmóreos seus rochedos.
P´los prados, trigais, vinhedos...
Borba... Tu és conhecida.
2
E, na doce paz Divina,
fez aqui o paraíso...
convocou o deus Dioniso
para cultivar a campina
com castas de polpa fina
das melhores que em Si detinha...
e, também, como convinha
aos seus divinos manjares...
para divina te tornares
por seres tão nobre e velhinha.
3
E, Deus... sem padres nem bispos...
que 'inda os não havia então,
chamou a Si a gestão
e assumiu todos os riscos.
Pôs chuvadas e chuviscos...
condição que era exigida,
e colocou à partida
ternos ventos, meigas brisas...
por serem sempre precisas
onde há paz, amor e vida.
4
Depois... descansou então,
ao fim do sétimo dia,
teve paz e alegria
que ainda hoje aqui estão...
conteve o vento suão,
deteve a erva daninha...
inventou a cor verdinha
como fundo de ternura
teve amor, teve ventura...
e a "Grande Festa da Vinha" !...

Matos Serra in, Alentejo, as Terras e as Gentes.

sábado, 22 de junho de 2013

ARRONCHES

POESIA TRADICIONAL " À VILA DE ARRONCHES "

MOTE
Se a Arronches chegas ou passas
logo a tristeza atenuas...
Andam ternuras e graças
por praças, becos e ruas.

I
Se a avistas da lonjura,
tão colorida, tão bela...
te parece uma aguarela
sobre um fundo de ternura.
Inserida na planura...
se passas, logo te enlaças
nas suas formas e traças,
malhas de cor e poesia...
Te envolves nesta harmonia
se a Arronches chegas ou passas.
2
Cada rosto é um sorriso
aberto de par em par,
e tu ficas a pensar
que entraste no paraíso...
e apenas é preciso
que o vivas e usufruas...
São tantas as graças suas
e o calor da sua gente
que ao chegares ficas contente
logo a tristeza atenuas.
3
E se estiveres de passagem
ou p'lo mundo andares perdido...
vais te sentir envolvido
se fizeres aqui paragem.
Já não queres seguir viagem,
razão há para que a não faças...
Por trás das lindas vidraças
há fatores de sedução...
A prender-te o coração
andam ternuras e graças.
4
As doces ninfas do rio,
a beleza dos seus montes,
a água fresca das fontes,
o seu ar puro e sadio...
te lançam um desafio
para que fiques e fruas
e que passem a ser tuas
essas riquezas singelas
porque há tantas coisas belas
por praças, becos e ruas.

Matos Serra in, O Alentejo, as Terras e as Gentes.