quinta-feira, 25 de julho de 2013

RUBRA MAGIA DOS POENTES

Os fins das tardes estivais do meu Alentejo continuam a ter para mim uma misteriosa fascinação que muitas vezes me motiva viagens oníricas onde acabo por encontrar, quase sempre, a ideia para um poema em louvor desta terra bem amada.

     SONETO
Quando se esvai a tarde rotineira...
os silêncios nos tocam de mansinho,
cada bulir de folha é um caminho
para ser de uma ideia a mensageira...


Como terno sabor de um fresco vinho...
quando a brisa me põe a mão fagueira
é como uma ancestral tecedeira
que tece os seus lavores em fofo arminho!...


Nos dias de calor, quando o sol arde,
há timbales na alma, quando a tarde
já acalma o calor do sol ardente...


e, quando se aproxima o fim do dia,
traz algo de mistério e fantasia
com a " rubra magia do poente"!....

 Matos Serra in, Alentejo, os Seus Mistérios e as Suas Belezas.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

MARVÃO

ALENTEJO, AS SUAS BELEZAS, AS SUAS TERRAS E AS SUAS GENTES
(Com mote do poeta lisboeta e grande amigo do Alentejo e da sua cultura genuína, José Fanha)
TÍTULO: NESTE NINHO GUARDO AS ASAS
HISTÓRIA DO POEMA: Durante oito anos seguidos realizou-se na Vila de Marvão, talvez o mais castiço dos castelos medievais portugueses, presidido pelo nosso extraordinário poeta José Fanha, um concurso de poesia tradicional (Décimas subordinadas a mote), cujo acervo de trabalhos apresentados era da ordem das várias centenas...Era um concurso destinado a promover, pela via poética, esta tão simpática como caraterística vila alentejana e eu concorri nos últimos dois anos, 2000 e 2001. Depois mudou a cor política e, talvez... tenha mudado o interesse pela nossa cultura e pela nossa poesia e este concurso não voltou mais a realizar-se. Este meu poema mereceu, em 2000, uma menção honrosa que me deixou muito feliz, pois gosto muito de Marvão. O outro, que postarei aqui quando tiver oportunidade, e que corresponde ao último ano destes jogos, foi, então, distinguido com o primeiro prémio... e, como só até ao terceiro prémio os participantes tinha direito a ir lá dizer os seus trabalhos, pela ordem inversa dos premiados, eu tive a honra de fechar esse ciclo interessante de poesia em 2001.

MOTE DE JOSÉ FANHA

Sete ruas, sete casas,
sete sóis sobre Marvão...
Neste ninho guardo as asas
do meu louco coração.

(Apanhando a toada do mote e em honra ao número cabalístico "SETE" e dedicado a minha mulher, a Maria Antónia, que nasceu a sete do sete, eu escrevi então...)

Sete horas para cá chegar
ou mais sete que se gastem...
não são motivos que bastem
para se poder evitar
que a venhamos visitar
no peito trazendo brasas...
com as nossas almas rasas
de emoções, nada pequenas...
Pois não é para ver apenas
sete ruas, sete casas.

A sete ameias subir
p'ra desfrutar sete vistas,
elaborar sete lista
p´rás belezas coligir...
a sete aedos ouvir
sete noites ao serão...
sete lendas que dirão
quantas lutas ocorreram...
Combates que pareceram
sete sóis sobre Marvão.

Vir a sete bares beber
e sete vezes escutar
sete lendas de encantar
e sete amigos trazer...
Com os sete aqui poder
à fantasia dar vasas...
Óh! espírito como te aprazas
se história a rever me ponho...
P'ra voar nela e no sonho
neste ninho guardo as asas.

Para pintar sete telas
vir cá com sete pintores,
p'ra pintar a sete cores
as sete lendas mais belas...
e subir com sete velas
ao mais alto torreão...
p'ra da sua construção
ir falar com D.Dinis...
Num desvario feliz
do meu louco coração.

 Matos Serra, 8/9/2000